Por Teófilo Benarrós de Mesquita, do ATUAL
MANAUS – Ao rebater pesquisa de cientistas brasileiros sobre o risco de disseminação de doenças de origem animal a partir do reasfaltamento de trecho da BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO), o senador Plínio Valério (PSDB-AM) baixou o nível e chamou os pesquisadores de “imbecis, babacas e cientistas de bosta”. “Eles sequer notam que a rodovia já está aberta, cacete”, disse em discurso no plenário do Senado Federal na quarta-feira (21).
“Dentre as imbecilidades que a gente ouve sobre a Amazônia, e sempre tem imbecis, cientistas que se dizem cientistas, falando bobagem, falando besteira. A Amazônia já foi condenada. Disseram que no ano 2000 não passava de um areal. Nada disso é cobrado depois”, esbravejou o senador.
“Agora, não é para minha surpresa, mais um absurdo: ‘Pavimentação de rodovia que liga Manaus a Porto Velho pode contribuir para novas pandemias, alertam pesquisadores’. Olha só o que eles querem atribuir ao asfaltamento da rodovia amazônica: o surgimento de novas pandemias”, disse Plínio Valério, ao citar o estudo publicado pela revista Nature.
“Esses imbecis, brasileiros, que retransmitem, que divulgam essas imbecilidades, têm que entender que a rodovia está aberta. Não se vai derrubar uma só árvore”, completou.
Plínio repetiu promessa feita durante a CPI das ONGs, que foi criada e presidida por ele. “O meu mandato eu coloco em jogo: se derrubar uma só árvore nesse trecho da BR-319 eu renuncio agora ao meu mandato”, prometeu. Plínio foi eleito senador em 2018, assumiu em 1º de janeiro de 2019 e tem vaga no Senado até 31 de dezembro de 2026.
A pesquisa é dos pesquisadores Lucas Ferrante, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), e Guilherme Becker, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
De acordo com o estudo, o asfaltamento do trecho do meio pode prejudicar as metas climáticas ao acelerar a perda da biodiversidade no bioma, além de propiciar saltos de zoonoses – doenças infecciosas transmitidas dos animais para os seres humanos – que podem desencadear novas pandemias.
“Este bloco da floresta é o maior reservatório de patógenos do nosso planeta, tais como vírus, fungos, bactérias e príons. O asfaltamento aumentará tanto o desmatamento como a mobilidade humana na região. Estes fatores tendem a propiciar saltos zoonóticos que podem resultar em uma sequência de pandemias e no fortalecimento da disparidade na saúde pública”, disse Ferrante ao jornal ‘O Globo’, que também publicou o estudo.
A reportagem cita que “o pesquisador do INPA [Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia], Philip Martin Fearnside, que estuda impactos de obras de infraestrutura na Amazônia há décadas, também tem falado sobre os perigos associados à pavimentação da BR-319”.
“Querem culpar agora nós, da Amazônia, pelas pandemias que irão surgir, porque irão surgir de verdade. E nós seremos os culpados, porque queremos o asfaltamento da BR-319. É uma questão de repor a verdade, e de chamar mais uma vez esse pessoal de imbecis, manipuladores, hipócritas, cretinos, que pregam esse tipo de estudo, que não passa de estudos encomendados, para culpar e não permitir que nós amazônidas, não consigamos o nosso direito de ter dignidade: uma simples rodovia asfaltada”, afirmou Plínio Valério.
O senador foi o autor do requerimento que criou a CPI das ONGs para investigar a atuação de organizações da sociedade civil na Amazônia. O relatório final foi aprovado em 13 de dezembro e enviado ao MPF (Ministério Público Federal).
Na quarta-feira (21), mesmo dia do discurso de Plínio Valério no Senado, o MPF determinou o arquivamento do relatório por falta de provas.