A Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz da USP publicou seu primeiro Boletim de Conjuntura Industrial do ano. Nesta edição, o texto discorre a respeito das produções do setor, das taxas de emprego, além da queda de confiabilidade do empresariado. Sob responsabilidade de Carlos Vian, professor do Departamento de Economia, Administração e Sociologia, o boletim também elabora o panorama geral da economia brasileira, analisando os juros e a inflação, e os impactos da conjuntura política internacional no cenário do País.
Vian destaca o aspecto de desconfiança que se instaura na economia, principalmente pelas discussões fomentadas no setor doméstico no último período e a inflação dos produtos alimentícios. Além disso, menciona as incertezas geradas pelo retorno de Donald Trump à presidência dos EUA: seu pacote de taxações pode trazer problemas à economia brasileira, baseada em exportações.
Setor industrial
Os dados do boletim demonstram estabilidade nas taxas de emprego do setor industrial, contudo, há também um aumento na quantidade de horas trabalhadas. Vian aponta esse crescimento da carga horária como um indicativo de que a indústria está chegando ao limite de sua capacidade produtiva, e coloca essa questão como consequência do cenário de incertezas citado anteriormente. Essa série de fatores leva à falta de investimentos na indústria, complementa.
O professor reforça o benefício que o investimento no setor poderia trazer à economia nacional: “A indústria continua apenas com aquele investimento para suprir a depreciação dos seus ativos e alguma modernização pontual. Mas nós não temos uma perspectiva de aumento de capacidade que levaria a aumento de emprego, que levaria a uma série de outros aspectos econômicos, gerando o que a gente chama de um efeito multiplicador pela economia”. Além disso, relaciona também essa falta de investimento, contrastante com uma demanda estabilizada, com a política de distribuição de renda do governo, chamando o cenário de armadilha. Segundo Vian, essa série de fatores se refletem no baixo índice de empregos, em termos históricos, que pode ser observado hoje.
Economia nacional
A respeito do cenário econômico nacional, a inflação chama atenção principalmente nos produtos alimentícios. O professor aponta o agravamento da crise climática como uma das causas e coloca a necessidade de um tempo razoável para uma possibilidade de melhora no cenário. Para ele, a perspectiva diante da situação é um aumento contínuo na taxa de juros ao longo do ano e há a necessidade de outras medidas para conter os danos e possibilitar que as expectativas de investimento não diminuam ainda mais.
O boletim aponta uma expectativa de um menor crescimento do PIB em 2025 e 2026 e um aumento da taxa Selic neste ano. Por outro lado, há uma desvalorização da taxa de câmbio. Vian aponta o caminho para a retomada do crescimento econômico: “Eu acho que o grande desafio é, no ambiente do Estado, se encontrar um caminho para algumas medidas em relação a essa questão fiscal e a outros segmentos”.
Cenário internacional
O cenário internacional é marcado pelo início do novo governo Trump, que traz consigo um pacote de tarifas. O boletim aponta a seriedade dessa taxação ao Brasil, que por ser um país exportador tem toda a sua cadeia produtiva afetada pelas tarifas sobre o aço e o alumínio. Contudo, o professor coloca a possibilidade de essa ser uma estratégia de negociação do novo presidente americano, com o objetivo de obter redução nas tarifas sobre os produtos brasileiros exportados ao seu país.