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Depois de 470 dias, Israel se prepara para receber os reféns do Hamas

Gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aprova o acordo de cessar-fogo e a troca de sequestrados por presos palestinos. Libertações terão início neste domingo. Neto de israelense mantido pelo Hamas em Gaza fala ao Correio

Publicada em 18/01/25 às 11:25h - 13 visualizações

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Depois de 470 dias, Israel se prepara para receber os reféns do Hamas
 (Foto: Rádio Rir Brasil Amazonas - Direção:Eneida Barauna e Ronaldo Castro - 92 98607-0010)
Parentes de sequestrados pelo Hamas fazem uma declaração à imprensa, em Tel Aviv: 468 dias de agonia, medo e incertezas - (crédito: Jack Guez/AFP)

Assim que cruzarem a fronteira com a Faixa de Gaza e retornarem ao sul de Israel, todos os 33 reféns libertados na primeira etapa do acordo de cessar-fogo receberão uma mochila com seus itens favoritos. Uma maneira de trazer conforto a quem enfrentou quase 470 dias de incerteza, angústia e medo da morte. Depois da volta para casa, os ex-reféns passarão por um longo processo de avaliação médica e de tratamento psicoterapêutico para curar as sequelas de tanto tempo no cativeiro.

A Operação Asas da Liberdade, como é chamada mobilização logística para o regresso dos 98 sequestrados ainda em poder do movimento extremista palestino Hamas, envolve a preparação de seis hospitais — quatro deles localizados na região central; os outros dois estarão de prontidão para casos mais urgentes, por se situarem próximos a Gaza. 

Depois de mais de sete horas de deliberação, que invadiu o shabbat (dia sagrado de descanso para os judeus), o gabinete do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, aprovou o acordo de cessar-fogo com o Hamas, mediado por Catar, Egito e EUA. Segundo a imprensa de Israel, 24 ministros votaram a favor e oito, contra. Com isso, os três primeiros reféns deverão ser libertados a partir das 12h15 deste domingo (7h15 em Brasília). Mais cedo, o gabinete de segurança de Netanyahu tinha avalizado o pacto.

Netanyahu (o quinto da esquerda para a direita) comanda reunião de gabinete para votar o acordo de trégua, em Jerusalém    (Photo by Koby Gideon / GPO / AFP) / Israel OUT / XGTY / === RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
Netanyahu (o quinto da esquerda para a direita) comanda reunião de gabinete para votar o acordo de trégua, em Jerusalém(foto: Koby Gideon/GPO/AFP)

Na quinta-feira (16), a trégua em Gaza ficou algumas horas no limbo, depois que o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, avisou que sairia do governo, caso o acordo fosse aprovado. Até mesmo integrantes do Likud, partido de Netanyahu, expressaram reservas em relação a uma negociação com o Hamas.

Listas

As autoridades israelenses divulgaram uma lista com os nomes dos 33 réféns. São 12 mulheres e crianças e 21 homens — 10 deles com 50 anos ou mais; os mais idosos são Oded Lifshitz, 84, e Gadi Moshe Moses, 80. Os mais novos são os irmãos Kfir Bibas, 2; e Ariel Bibas, 5. Israel também publicou a lista dos 95 prisioneiros palestinos que serão soltos antes das 16h deste domingo (11h em Brasília).

O Hamas somente divulgará a identidade dos três primeiros sequestrados soltos horas antes da devolução a Israel. O presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, garantiu que está pronto para assumir "toda a responsabilidade" em Gaza depois da guerra.

O jornal The Jerusalem Post informou que cada refém ficará hospitalizado por, no mínimo, quatro dias. Nos centros de saúde, as mulheres serão submetidas a testes de gravidez. Todos os 33 serão avaliados por nutricionistas, médicos e psicólogos. Os hospitais ganharão leitos luxuosos e aposentos para receber os familiares. Especialista em transtorno do estresse pós-traumático e chefe do Departamento de Resiliência da Zaka — organização sem fins lucrativos de resposta a desastres em Israel —, Vered Atzmon Meshulam explicou à reportagem que o processo de recuperação dos reféns será "um dos mais complexos e desafiadores". "A extrema crueldade que suportaram — terror psicológico prolongado, abuso físico e desumanização — torna este um trauma diferente de qualquer outro. A cura exigirá uma abordagem delicada e de longo prazo, que honre cada  experiência individual", comentou. 

Montanha-russa

Em entrevista ao Correio, Daniel Lifshitz — neto de Oded Lifshitz, 84 nos, cujo nome está na lista dos 33 a serem soltos na primeira fase — disse não saber se o avô será libertado. "Não recebemos nenhuma informação recente sobre a sua condição de saúde. Isso torna muito difícil preparar uma recepção festiva. No momento, não estamos fazendo nenhum preparativo. Nossa família decidirá o que fazer", afirmou o ex-goleiro do Maccabi Tel Aviv, de 35 anos. Yocheved Lifshitz, 84, a avó de Daniel (leia Depoimento), deixou Gaza em 23 de outubro. O casal foi capturado no kibbutz de Nir Oz, a 1,6km da fronteira, durante o massacre de 7 de outubro de 2023. 

De acordo com Lifshitz, os últimos 469 dias foram de rupturas na família e de união, com mais jantares, encontros e reuniões em torno de Yocheved. "É uma montanha-russa. Por um lado, achávamos que meu avô estava morto. Duas semanas depois, dois sequestrados que voltaram de Gaza contaram tê-lo visto; então, entendemos que ele estava vivo", relatou o neto de Oded. "O que sinto agora é muita tensão. Trata-se de uma situação bastante estressante, apesar de ser a qual nós gostaríamos de estar. Então, eu a recebo com bênção e amor. Espero ver reféns voltando para casa em breve."

Em Bror Hayil, kibbutz fundado por brasileiros, a 7km da Faixa de Gaza, Yanai Gilboa, 60, admitiu ao Correio que sente alívio com o acordo. "Há debates sobre se os termos da trégua são bons ou ruins. Eu acho que é um acordo essencial. Não tínhamos outra opção. Cerca de 80% dos israelenses estão a favor da interrupção dos combates e da devolução dos reféns. Uma minoria pensa que o pacto é ruim porque vai liberar terroristas, mas, nessa altura, lamentavelmente, não temos saída", disse o filho de brasileiros. Gilboa acrescentou que a maioria da população defende a antecipação das eleições, marcadas para 2027. "O nosso primeiro-ministro vai precisar cair fora", opinou.

DEPOIMENTO

"O acordo é o melhor que pode ser"

"Eu esperava que o acordo de cessar-fogo fosse algo mais simples, sem qualquer problema de pular entre fases. Acho que uma única fase poderia ser melhor. Mas, este é o acordo. É o que é. Acho que é o melhor que pode ser. É claro que coisas aconteceram antes. No entanto, é muito difícil negociar com uma organização terrorista que deseja, muitas vezes, coisas que Israel não pode dar. Do outro lado, temos alguns problemas, também. Eu agradeço o presidente Donald Trump. Ele foi a chave para que isso ocorresse, ao afirmar que Netanyahu teria que libertar os reféns. Tivemos sorte por Trump ter sido eleito. 

Daniel Lifshitz com o avô, Oded, 83 anos, sequestrado no kibbutz de Nir Oz
Daniel Lifshitz com o avô, Oded, 83 anos, sequestrado no kibbutz de Nir Oz(foto: AFP)

Meu avô, Oded Lifshitz, está em poder do Hamas, em Gaza. Ele é uma pessoa incrível. Começou a erguer o kibbutz de Nir Oz da areia, na fronteira de Israel, em 1957. Ele cultivou um jardim de cactos fascinante, que tem 64 anos e é uma das belezas do mundo. Meu avô sempre lutou pelas minorias e defendia que Gaza tivesse uma educação adequada. Acredita que esse seria o único modo de resolver esse conflito. Não disseminar material de ódio contra Israel. Ele é uma pessoa que ama sua família, os filhos, os netos e a bisneta. Além de jornalista, é um ativista pela paz, que sempre lutou pela coisa certa."

Daniel Lifshitz, ex-goleiro do Maccabi Tel Aviv. Na foto, com o avô, Oded, 84 anos, sequestrado no kibbutz de Nir Oz

 

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