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Estados Unidos: Eleitores depositam medos e angústias nas urnas

Em uma das eleições mais polarizadas dos últimos tempos, americanos escolherão o próximo presidente, na terça-feira, tomados por angústias e receios. Trump intensifica retórica agressiva e sugere disparos contra a ex-deputada Liz Cheney

Publicada em 02/11/24 às 10:45h - 17 visualizações

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Estados Unidos: Eleitores depositam medos e angústias nas urnas
 (Foto: Rádio Rir Brasil Amazonas - Direção:Eneida Barauna e Ronaldo Castro - 92 98607-0010)
Simpatizante de Trump posa para foto em painel com imagem do dia do atentado, em Warren (Michigan) - (crédito: Roberto Schimdt/AFP)

De um lado, uma candidata que pede aos eleitores que façam uma escolha entre a esperança e o caos. De outro, um adversário que intensifica a retórica agressiva contra "inimigos internos". No meio, cidadãos tomados pelo medo. Em três dias, Kamala Harris e Donald Trump serão os protagonistas de uma das eleições polarizadas das últimas décadas, também marcada pela desinformação. Ao desembarcar em Madison (Wisconsin), Kamala afirmou que a violência verbal de Trump o desqualifica à Presidência. Na quinta-feira (31/10), durante programa de tevê no Arizona, o republicano chamou a ex-deputada Liz Cheney de "burra" e "idiota" e sugeriu disparos contra o rosto da colega de partido. "Ela é um falcão radical de guerra. Vamos colocá-la com um rifle ali com nove canos disparando nela, certo?", disse. As autoridades do Arizona investigam a ameaça.

"Isto deve ser desqualificativo. Alguém que quer ser presidente dos EUA e que utilize este tipo de retórica violenta está claramente desqualificado para o cargo", declarou Kamala, no mais recente episódio de discurso violento. Cheney respondeu a Trump ao sustentar que "é assim que os ditadores destroem nações livres". "Ameaçam de morte aqueles que se manifestam contra eles. Não podemos confiar nosso país e nossa liberdade a um homem mesquinho, vingativo, cruel e instável, que quer ser um tirano." A Casa Branca qualificou as declarações de Trump de "inaceitáveis" e "perigosas".

Na terça-feira (5/11), os eleitores irão às urnas com preocupações específicas: a ameaça à democracia, o futuro da economia, a abertura à imigração ilegal, o reforço do racismo e o cerceamento do direito ao aborto. 

Drew Roby, um estudante negro de 21 anos, apoia Trump, mesmo sem entusiasmo. "Vejo como o país tem sido administrado nos últimos quatro anos e era melhor quando ele era presidente", afirmou à agência France-Presse (AFP). Ele se disse ciente que escolher também significa aceitar a "loucura que vem com ele".

Morador do Arizona, um dos sete estados-pêndulo, Roby não esconde o temor do aumento do ódio e do racismo. No mesmo estado, Whitley Brown, 35, confessou à AFP que teme pelo futuro das filhas. "Tenho duas meninas, de 11 e 13 anos, e quero que, quando forem adultas, possam ter controle sobre seus próprios corpos, e que o governo não esteja na sala de exame com elas", disse. Estudante da área da saúde e eleitora de Kamala, Madelina Tena, 18, questiona: "Já estão tentando tirar o nosso direito ao aborto, o que mais podem nos tirar? Qual será o próximo?".

Kamala Harris gesticula durante comício no Ellipse, parque em Washington:
Kamala Harris gesticula durante comício no Ellipse, parque em Washington: "Liberdade"
(foto: Kent Nishimura/Getty Images/AFP)

Tom Hollihan, professor de comunicação e ciência política da Universidade do Sul da Califórnia (USC), admitiu ao Correio que os Estados Unidos tornaram-se uma nação tão profundamente polarizada que, infelizmente, tanto republicanos quanto democratas veem um ao outro não como alguém equivocado, mas como alguém maligno. "Os democratas temem que a eleição de Trump represente o fim da democracia, como a conhecemos. Eles consideram Trump um déspota fascista que talvez nunca entregue o poder e que prometeu buscar vingança de seus inimigos políticos", avaliou. "Os republicanos, por sua vez, temem que Kamala continue a aceitar a entrada de muitos imigrantes não documentados nos EUA e que a cultura dominante (branca) se perca, à medida em que nos tornemos uma nação em que eles (republicanos) não se sintam mais em casa."

Hollihan não descarta que a eleição deste ano seja decidida nos tribunais e que o candidato republicano não aceite uma eventual derrota. "Acho que ambos os cenários são possíveis. É provável que Trump reclame vitória mesmo se  perder. Ele está se preparando para tal resultado, tanto retoricamente em suas mensagens de campanha, quanto em briefings legais que podem ser apresentados à Corte, se necessário", observou.

Desinformação

Nas últimas semanas, um elemento a mais adicionou angústia na campanha eleitoral, repetindo uma tendência das eleições de 2020: a desinformação. Nas redes sociais, proliferaram inverdades sobre fraudes eleitorais ou sobre votos perdidos e destruídos. "Esse tipo de mensagem destrói a confiança da opinião pública e pode levar a mais violência política, como vimos em janeiro de 2021", advertiu o estudioso da USC, ao mencionar a invasão ao Capitólio. 

Para Jake Grumbach, professor da Faculdade Goldman de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia Berkeley, a atual eleição se insere em uma era de alta polarização partidária. Ele explicou ao Correio que a maioria dos eleitores não gosta do partido político adversário. "Muitos eleitores dizem que estão votando com base em posições políticas (geralmente, temas ligados à economia, ao aborto, à imigração e à segurança), mas, normalmente, estão mais motivados pelo desejo de derrotar o partido rival do que por assuntos específicos que Kamala ou Trump defendem", observou. 

Grumbach ressaltou que existem litígios em torno dessa eleição e prevê uma onda de disputas judiciais depois de terça-feira. "Em 2000, a Suprema Corte dos EUA determinou o vencedor da eleição presidencial, ao suspender a recontagem de votos na Flórida. Em uma eleição acirrada em 2024, a máxima instância judicial pode, novamente, desempenhar um papel importante na determinação do vencedor", disse. "Além disso, se houver tentativas de subverter o pleito, como ocorreu em 2020, quando Trump pressionou as autoridades eleitorais da Geórgia a mudarem os resultados das urnas, os tribunais estarão ainda mais envolvidos."

A campanha de Kamala alertou, nesta sexta-feira (1º/11), que Trump poderá declarar vitória antecipadamente na noite de terça-feira, antes mesmo da totalização dos votos. A equipe de advogados da democrata tem se preparado para esse cenário desde 2020 e vê com preocupação manobras legais dos republicanos. Um dos casos envolve o Arizona, onde um aliado de Trump acusou a secretária de Estado de reter dados sobre os eleitores. Ao menos 63 milhões de pessoas votaram por antecipação.

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Jake Grumbach, professor da Faculdade Goldman de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia Berkeley
Jake Grumbach, professor da Faculdade Goldman de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia Berkeley
(foto: Arquivo pessoal )

"Os efeitos da desinformação sobre eleições recentes são frequentemente exagerados. No entanto, eles têm algum efeito, frequentemente no aumento da desconfiança nas instituições. A peça de desinformação mais prejudicial na política atual dos EUA é a teoria da conspiração de que a fraude eleitoral em massa levou a uma eleição 'roubada' em 2020. Apenas cerca de um terço dos americanos acredita nessa conspiração, mas ela levou a uma tentativa de golpe em janeiro de 2021, bem como a ameaças de violência contra autoridades eleitorais."

Jake Grumbach, professor da Faculdade Goldman de Políticas Públicas da Universidade da Califórnia Berkeley

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