Os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Chile, Gabriel Boric, não poderiam estar em espectros políticos mais opostos. Enquanto um é um libertário que defende o Estado mínimo, o outro é um ex-líder de movimento estudantil de esquerda. Ambos, porém, têm em comum a lua de mel curta, resultado das consequências de ser um "outsider" antes de assumir o cargo, indica um estudo do Observatório Pulsar da Universidade de Buenos Aires (UBA).
A análise foi feita na esteira do marco dos 100 dias de Milei na Casa Rosada, trimestre que sacudiu a economia, a política e a sociedade argentina. Com isso, os pesquisadores analisaram os primeiros 100 dias de nove presidentes das Américas e concluíram que outsiders como Milei, Boric e Petro Castillo, agora ex-presidente do Peru, já começam com popularidade menor, geralmente abaixo dos 50%, e veem esse apoio ser corroído ao longo do tempo de maneira contundente.
Do outro lado da balança está Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil; Joe Biden, nos Estados Unidos, e Luis Lacalle Pou, no Uruguai, figurinhas carimbadas da política de seus países que, embora também veem seus apoios sendo corroídos pela impaciência popular, a velocidade é muito menor. Muito devido ao poder e experiência de diálogo de seus partidos com outros Poderes e bases políticas. Além disso, suas oscilações de apoio não costumam ser tão drásticas quanto as vistas entre os outsiders.
No meio deste caminho estão os "rebeldes", aqueles que, pelas definições do observatório, vêm de partidos tradicionais ou possuem carreiras políticas anteriores, porém, prometem mudanças profundas ao chegar ao governo. É o caso de Gustavo Petro, na Colômbia, Andrés Manuel López Obrador (AMLO) no México e Guillermo Lasso, ex-presidente do Equador.
Estes costumam chegar ao poder com forte respaldo popular - Petro é uma exceção neste caso, já que sua vitória em 2022 foi apertada -, no entanto, o apoio vai caindo drasticamente ao longo do tempo, conforme as mudanças prometidas não chegam aos olhos da população.
Para a seleção dos presidentes, os pesquisadores determinaram que era necessário haver ao menos cinco estudos nacionais de opinião pública distintos com intervalos de publicação de cinco a 20 dias. Com este critério, ficaram de fora Luis Arce, da Bolívia, e Daniel Noboa, do Equador. Dina Boluarte também ficou de fora por representar uma continuidade do governo de Castillo.
Tanto Pedro Castillo quanto Guillermo Lasso já não comandam os seus países, mas fazem parte da análise por atenderem aos requisitos acima. Suas presenças, além disso, são significativas já que corroboram o resultado de um apoio popular em queda: Castillo foi preso depois de um golpe de Estado fracassado e Lasso matou o próprio governo em meio à crise política no país.
Todos vão mal
Um estudo anterior do mesmo observatório já mostrava uma realidade preocupante aos presidentes do continente: a paciência popular está muito mais curta depois da pandemia. Antes da crise sanitária, era comum os líderes começarem os seus mandatos com níveis altos de aprovação, acima de 70%.