EDITORIAL
MANAUS – Os políticos amazonenses subiram o tom com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) nos últimos dias quando os problemas da vazante dos rios da Amazônia começaram a pautar o jornalismo brasileiro. Culpam Marina Silva pelo não asfaltamento da BR-319, que eles apontam como solução para os problemas de transporte de cargas em tempos de seca das bacias hidrográficas da região.
Crucificar Marina Silva é pura injustiça e tentativa de empurrar o problema para outro ponto para se livrar de responsabilidades. Ela já se manifestou diversas vezes, ao ser questionada sobre a não pavimentação da BR-319, que tem menos culpa do que uma série de outros ministros que já passaram pela pasta depois dela.
A atual ministra do Meio Ambiente assumiu a pasta em janeiro deste ano, depois de ficar quase 15 anos fora do governo. Ela foi ministra do Meio Ambiente no primeiro mandato do presidente Lula (2003-2006) e pouco mais de um ano do segundo. Assumiu o posto em janeiro de 2003 e deixou o cargo em maio de 2008. Em 2009 deixou o PT e se filiou ao Partido Verde.
Depois dela, passaram pelo ministério mais cinco ministros: Carlos Minc, Izabella Teixeira (nos governos Lula e Dilma Rousseff), Sarney Filho (no governo de Michel Temer), Ricardo Salles e Joaquim Álvaro Pereira Leite (no governo de Jair Bolsonaro).
Não se viu, depois da saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente, movimento significativo dos políticos do Amazonas para liberação das licenças ambientais para asfaltamento da BR-319, que sempre foi usada para discursos de campanha, com promessas que jamais cumpriram.
Os dois ministros que sucederam a Marina na pasta nos governos do PT – Carlos Minc e Izabella Teixeira – estão mais à esquerda e militam na defesa do meio ambiente. Sarney Filho, apesar de ser um filiado histórico do Partido Verde, nunca foi um defensor ferrenho do meio ambiente. No entanto, no Governo Temer (2016-2018) também não se viu movimentação significativa de políticos do Amazonas em favor da BR-319.
No entanto, a rodovia foi um dos recheios prediletos dos discursos de campanha eleitoral em 2018. Vencida a eleição pelo candidato Jair Bolsonaro, e nomeado Ricardo Salles como ministro do Meio Ambiente, todos acharam que seria fácil a tão sonhada pavimentação.
Mas o ministro negacionista do meio ambiente e inimigo da preservação ambiental sequer foi incomodado pelos políticos que hoje apontam o dedo para a ministra Marina Silva.
Em um dos arroubos do vice-presidente da República na gestão Bolsonaro, o general Hamilton Mourão esteve no Amazonas e prometeu a pavimentação da estrada, afirmando que comeria a boina se ela não fosse asfaltada.
Mourão foi aplaudido de pé pelos bajuladores daquele governo, que nada vez pelo Amazonas. A única lembrança de Bolsonaro no estado é a inauguração de uma ponte de madeira sobre um córrego, evento que custou mais do que a própria ponte, incluindo a viagem presidencial à região de São Gabriel da Cachoeira.
Neste espaço dissemos que os amazonenses não deveriam comemorar uma promessa, mas deveriam esperar pela conclusão da obra, que sequer foi iniciada nos quatro anos de governo Bolsonaro.
Agora, quando a vazante severa ameaça a navegação nos rios da Amazônia, vossas excelências querem crucificar Marina Silva pelas condições da BR-319. Inventaram que foi ela quem impediu que a obra fosse incluída no Programa de Aceleração do Crescimento.
Mesmo que a BR-319 estivesse incluída no PAC, não seria asfaltada a tempo da chegada da grande estiagem deste ano.
Em 15 anos não seria possível aproveitar a ausência de Marina Silva do governo e da pasta do Meio Ambiente e tocar a obra de pavimentação da rodovia? Por isso, a crítica a Marina Silva pela BR-319 soa como uma cortina de fumaça.
Como bem alertou a professora e geógrafa Adorea Rebello Albuquerque, em matéria divulgada no ATUAL nesta semana, falta vontade política e o cumprimento da lei para que o flagelo da seca dos rios e das enchentes seja combatido com ações efetivas.