Do Estadão Conteúdo
SÃO PAULO – A Copa América de 2024, que tem sua final neste domingo, entre Argentina e Colômbia, é mais um torneio organizado nos Estados Unidos para ampliar e desenvolver o esporte no país. A competição deste ano é fruto de um acordo entre Conmebol e Concacaf. Até 2026, serão sediados também o Mundial de Clubes, em 2025, e a Copa do Mundo, em parceria com México e Canadá. A edição deste ano, no entanto, teve seus problemas – campos reduzidos e segurança nos estádios – e sucessos, com o aumento do público nos estádios.
Em 2016, a Copa América já havia sido realizada nos Estados Unidos. Na ocasião, a Conmebol celebrou o centenário da competição, em uma edição especial, com 16 seleções, que terminou com o título do Chile. Oito anos depois, os Estados Unidos foram escolhidos após desistência do Equador em receber o torneio. A proposta foi formalizada pelo país em 2022 e aceita no ano seguinte.
Em oito anos, pouca coisa mudou. Conmebol – dessa vez em parceria com a Concacaf -, optou por repetir o número de participantes no torneio. Além das dez seleções que são membros da entidade, foram convidadas EUA (país-sede), Jamaica, México, Panamá, Canadá e Costa Rica. Destes, apenas o Canadá não estava na edição de 2016 (na ocasião, o Haiti recebeu o convite).
Campos reduzidos
Além disso, o número de estádios, que receberam o jogos, aumentou de um torneio para o outro: dez em 2016 e 14 em 2024. Em média, cada praça recebeu 2,28 partidas na edição deste ano, enquanto há oito anos foram 3,2 por arena. Estádios estes que foram motivos de críticas ao longo da competição: dos 14 selecionados, 11 não tem o futebol como carro chefe, tendo as franquias da National Football League (NFL) – principal liga de futebol americano do país – como donas.
Isso acarretou em problemas no tamanho dos campos. A Copa América foi disputada em gramados que medem 100 metros de comprimento por 64 metros de largura, menores do que o padrão de torneios internacionais (105 x 68), recomendados pela Fifa. Isso se deveu à inexistência de um acordo entre Conmebol, Concacaf e os donos das franquias da NFL para que os estádios fossem adaptados (fato que geraria um custo extra) e os gramados aumentados.
Os gramados da Copa América não estiveram fora da regra da Fifa, que permite campos com comprimento de 100 a 110 metros e largura entre 64 e 70 metros em jogos internacionais. No entanto, esse fato passa uma má impressão e preocupa para o Mundial de Clubes de 2025 e a Copa do Mundo de 2026. A entidade, em seus relatórios prévios na candidatura conjunta de EUA, México e Canadá, garante que os estádios estarão aptos a receber os jogos no padrão de 105 x 68.
Os EUA terão 11 estádios como sede no Mundial de 2026. Destes, oito foram testados na Copa América deste ano, mas com o tamanho do campo reduzido. Além deste problema, no entanto, o saldo para a Conmebol foi de um ligeiro aumento na média de público: em 2016, foi de 46 mil torcedores, enquanto em 2024 subiu para 47 125 torcedores por partida. O Hard Rock Stadium, em Miami, recebe a decisão entre Argentina e Colômbia neste domingo.
“A tendência é que com o avanço dos meios digitais juntamente com a inovação das estratégias para engajar o fã de esporte tenhamos um aumento do interesse e da movimentação do ecossistema da Copa América. Se compararmos com anos anteriores veremos que os tempos são outros e as maneiras de se distribuir conteúdo é totalmente diferente”, aponta Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo. Nas redes, o perfil oficial da competição soma mais de 4,8 milhões de seguidores no Instagram; a versão em inglês, voltada para essa expansão, apenas 470 mil. Esse é um dos desafios da Fifa para expandir o esporte na América do Norte.
Menor média de gols
Os campos reduzidos atrapalharam a construção dos jogos, como apontaram jogadores e técnicos. Dorival Júnior, técnico da seleção brasileira, eliminada ainda nas quartas de final, culpou as dimensões do gramado para justificar a “marcação dupla” que os atletas sofreram ao longo das partidas. O Brasil venceu apenas um jogo em toda a competição.
“A gente não tem nenhuma desculpa, mas, com certeza, os campos atrapalham. A qualidade, você vê na Eurocopa e aqui, é completamente diferente. E, além disso, este ano eles diminuíram as medidas dos campos para nos dificultar mais ainda”, afirmou Vinícius Júnior. O atacante marcou dois gols, contra o Paraguai, e recebeu críticas a respeito de seu desempenho com a camisa canarinho.
Em 2016, a média de gols na competição foi de 2,84 por partida; em 2024, esse índice despencou para 2,17. Colômbia (12), Uruguai (9) e Argentina (8) têm os melhores ataques da competição, em números absolutos. São também as seleções que mais finalizaram ao longo da competição, seguidas pelo México. Convidada neste ano, a delegação da Concacaf apresentou problemas para reverter suas chances em gol (marcou apenas um e foi eliminada ainda na fase de grupos).
A final entre Argentina e Colômbia coloca, frente a frente, as equipes que conseguiram superar esses problemas de campo ao longo da competição. Além de finalizações e gols, são, respectivamente, a quarta e quinta seleção que tem o melhor índice de acertos nos chutes. Essa estatística indica um bom treinamento nos fundamentos das equipes ao longo do último mês. As equipes passaram por Canadá e Uruguai nas semifinais para chegar à decisão.
A seleção brasileira, por sua vez, pouco encantou na primeira competição oficial sob o comando de Dorival Júnior. Além de sentir os efeitos dos gramados reduzidos, precisou finalizar dez vezes até marcar; em comparação, a Colômbia, com quem empatou na fase de grupos por 1 a 1, chegou às redes, em média, a cada cinco chutes.