MANAUS – Há um contrassenso inexplicável no fato de Manaus ser uma cidade com tantas manifestações favoráveis à direita enquanto a direita brasileira desfere ataques sistemáticos contra o modelo de desenvolvimento do Estado do Amazonas, a Zona Franca de Manaus.
O último ataque veio de um ex-queridinho da direita, o senador e ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro (União Brasil-PR). Durante a votação do projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária, Moro apresentou uma emenda ao texto proposto pelo relator, o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que ameaçava de morte as empresas do Polo Industrial de Manaus.
Nas palavras do senador Omar Aziz (PSD-AM), Sérgio Moro criou uma narrativa contra a Zona Franca de Manaus, alegando que a manutenção dos incentivos fiscais ao modelo criaria desigualdade que prejudicaria a indústria em outros estados brasileiros.
Moro, que representava ali os interesses da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), não foi o primeiro representante da direita atentar contra o modelo ZFM. Desde que a direita venceu as eleições presidenciais de 2018, a indústria do Amazonas vem sendo sistematicamente ameaçada. Aliás, desde antes, quando Michel Temer herdou o governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), em 2016, no golpe travestido de impeachment.
Ainda está fresca na memória dos amazonenses de boa fé os ataques desferidos pelo ministro da Economia de Bolsonaro, o economista Paulo Guedes, que nunca escondeu em suas falas a revolta contra o modelo ZFM e a intenção de leva-lo à lona.
Não foram poucos os decretos editados pela dupla Jair Bolsonaro & Paulo Guedes que retiraram incentivos fiscais de diversos setores da indústria instalada no Polo Industrial de Manaus. Felizmente, o Amazonas foi amparado por decisões de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), depois de muito esforço de políticos que levantaram a voz contra a intenção do governo de matar a indústria instalada em Manaus.
Ao mesmo tempo em que o governo de direita golpeava a Zona Franca por meio de decretos, a administração federal tentava desmantelar a Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), que faz a gestão da indústria local. O atual superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, encontrou uma instituição à beira da falência, sem orçamento, com um quadro de pessoal insuficiente e uma Suframa desacreditada.
Apesar de todos esses esforços da direita contra o modelo ZFM, no próprio Estado e na capital amazonense há quem avalie essas ações como necessárias para o equilíbrio da economia brasileira. Esse discurso desconsidera as desvantagens do isolamento do Amazonas do resto do Brasil.
Alguns dos que discursam a favor da direita contra a ZFM o fazem sem qualquer base teórica ou prática; apenas reproduzem um discurso inventado para lacrar quem ousa discordar as ações desse grupo político, que é predador, violador de direitos e defende uma economia sem controle, entregue totalmente às vontades do “mercado”.
Alguns políticos afirmam que os discursos de ódio contra a Zona Franca de Manaus é fruto de desinformação sobre o modelo e que a indústria local é responsável por preservar a floresta amazônica no Estado.
Duas falácias. Os que levantam a voz contra a Zona Franca de Manaus conhecem muito bem o modelo, mas querem levar para o sul e sudeste brasileiros a fatia da indústria que se instalou aqui desde a década de 1960.
O discurso de que a Zona Franca de Manaus mantém a floresta em pé também não se sustenta. Não há qualquer base científica nesta afirmação. Mas o Polo Industrial de Manaus ajuda a manter a cidade e o estado em desenvolvimento e com a economia em ascensão. Ainda não é o cenário ideal, mas não se deve permitir que a direita roube este direito dos amazonenses.