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Advogada diz ter testemunhado situação da família de Djidja e até foi convidada a usar ketamina

Publicada em 03/06/24 às 10:44h - 101 visualizações

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Advogada diz ter testemunhado situação da família de Djidja e até foi convidada a usar ketamina
 (Foto: Rádio Rir Brasil Amazonas - Direção:Eneida Barauna e Ronaldo Castro - 92 98607-0010)
Do ATUAL

MANAUS – A advogada Lidiane Roque, que integra a defesa da família da ex-sinhazinha da fazenda Djidja Cardoso, afirmou neste domingo (2) que é “testemunha ocular” da situação de dependência química de Cleusimar Cardoso Rodrigues e Ademar Farias Cardoso, mãe e irmão de Djidja, pois é amiga pessoal da família e em algum momento foi convidada a usar a ketamina (também chamada de cetamina).

“Djidja, Ademar e Cleusimar, infelizmente, perderam o controle e se tornaram dependentes químicos. Eu particularmente tomo a liberdade de dizer que ela chegou a me oferecer. Quem eu presenciei que oferecia era a Cleusimar. Mas nunca houve coação, nunca houve obrigação. Confirmei isso com os funcionários”, disse Lidiane, em entrevista no salão Belle Femme.

A advogada afirmou que apenas agradeceu e recusou o convite. “Eu respondi da mesma forma que [responderam] todos que eu questionei: ‘não tenho interesse, mas agradeço'”, afirmou Lidiane.

Cleusimar e Ademar foram presos na última quinta-feira (28) casa em que Djidja foi encontrada morta, no bairro Cidade Nova, zona norte de Manaus. A gerente do salão de beleza em que Djidja era sócia, Verônica da Costa Seixas, também estava no local e foi presa. Outras duas pessoas que foram alvos de mandados de prisão se apresentaram na delegacia acompanhadas de advogados.

A polícia apura diversos crimes praticados pela família e afirma que eles lideravam uma seita intitulada “Pai, Mãe, Vida”, em que adeptos – incluindo funcionários do salão de beleza de Djidja – eram induzidos a usar drogas para entrar em transe. Segundo a polícia, nessa seita, a família acreditava que Ademar seria Jesus, que Cleusimar seria Maria e que Djidja seria Maria Madalena.

Djidja, Cleusimar e Ademar Cardoso estavam sendo investigados há 40 dias (Foto: Divulgação)

Neste domingo, apesar de alegar conhecimento sobre a situação da família Cardoso, a defesa criticou a polícia e afirmou que Djidja estaria viva se a operação tivesse ocorrido há algumas semanas. “Ela estaria presa, mas viva”, afirmou a advogada Nauzila Campos, ao declarar que a prisão de Cleusimar e Ademar salvou a vida deles.

“Ontem, o doutor Vilson Benayon, que é o responsável pela parte criminal do caso, afirmou para diversos veículos nacionais que a prisão salvou a família, salvou os três. E é verdade. A prisão salvou a vida deles. Se essa operação do doutor Cícero tivesse sido deflagrada há algumas semanas, a Djidja estaria viva”, afirmou Nauzila.

Na última sexta-feira (31), o delegado Cícero Túlio, do 1º DIP (Distrito Integrado de Polícia), afirmou que já investigava a família há 40 dias após receber denúncia de “existência de fatos de cárcere privado, estupro e possível aborto” praticado por um dos membros da seita. Segundo o delegado, a morte de Djidja foi o estopim para os pedidos de prisão.

Leia mais: Investigação contra Djidja e família envolve seita, aborto e cárcere privado

Seita

Lidiane afirmou que, diferente do que alega a polícia, não existe seita que obrigava funcionários do salão de Djidja a usar a droga. Segundo ela, a família usava o medicamento em casa, pois estava em dependência química. “A Djidja nem saía do quarto. Que ritual é esse que as pessoas ficam isoladas? Era cada um no seu canto. Não existia essa situação”, disse a advogada.

A defesa afirma que a família pregava a filosofia do livro Cartas de Cristo, escrito por uma mulher inglesa que optou pelo anonimato. Publicado no Brasil pela Almenara Editorial, o livro é descrito como uma “semente da futura evolução espiritual da humanidade” e fala sobre “transcender da consciência humana mediana para alcançar o nível da consciência Crística de Jesus”.

A advogada Nauzila Campos afirmou que os vídeos que circulam nas redes sociais que mostram Cleusimar, Ademar e Djidja em situação de delírio comprovam que eles são dependentes químicos. “[Esses comportamentos] são fruto de alucinações extremamente severas de uma droga que está destruindo famílias”, disse Nauzila.

“Verdadeiros traficantes”

As advogadas questionam sobre o proprietário da clínica veterinária que fornecia clandestinamente os medicamentos. “Nós reconhecemos a função social dessa operação a respeito de tentar captar esses fornecedores de droga que são os verdadeiros traficantes. E a gente questiona. Cadê o dono dessa clínica veterinária que não foi preso até agora?”, disse Nauzila.

“A resposta é fácil: porque não vende [não repercute]. É mais fácil falar de Jesus, Maria, Maria Madalena, do que simplesmente mandar prender o dono da clínica veterinária que, de fato, fornecia esses medicamentos perigosíssimos que só podem ser vendidos por receita”, completou a advogada, que explicou como pessoas vulneráveis são alvos de traficantes.

“A pessoa viciada, o dependente químico faz de tudo, dá a vida para conseguir a droga. O traficante não é dependente químico, é um comerciante que precisa lucrar, e faz de tudo e se aproveita da vulnerabilidade de dependentes químicos para isso. A gente questiona: Cadê dono da clínica veterinária que fornecia esses medicamentos pesadíssimos, perigosos?”, disse Nauzila.

Testemunhas

De acordo com Cícero Túlio, entre os crimes investigados estão cárcere privado, estupro de vulnerável e aborto. Segundo a polícia, duas mulheres relataram que foram estupradas enquanto estavam dopadas. Cícero Túlio disse que os investigadores também apuram “a possibilidade de ter acontecido um aborto” com relação a uma delas.

“Elas relataram a situação do estupro, principalmente pelo fato de terem sido dopadas durante o ato sexual e não se lembrarem absolutamente nada sobre aquilo. Algumas delas permaneceram despidas por vários dias, sem sequer tomar banho, em uma situação de cárcere privado. Inclusive, no momento em que adentramos àquela residência, o cheiro de podridão era muito forte”, disse.

A defesa da família Cardoso, no entanto, põe dúvidas sobre os depoimentos. “A prova testemunhal, pela natureza dela, é questionável. As pessoas que foram à delegacia fazer as denúncias estão muito envolvidas emocionalmente, e algumas delas são dependentes químicas”, disse Nauzila, ao levantar suspeitas de que as testemunhas prestaram depoimento sob efeito do fármaco.

“Em relação à cetamina, quando se faz o uso prolongado dessa droga, os efeitos não duram só 40 minutos, perduram por dias e dias. Então, não se sabe quais em condições essas pessoas prestaram depoimentos”, completou a advogada.

Abstinência

As advogadas relataram que Cleusimar passou mal no presídio em decorrência da abstinência. A defesa pediu à Justiça que ela e o filho sejam internados em clínica de reabilitação. “O Ademar e a Verônica estão relativamente mais tranquilos, mas a Cleusimar está apresentando os sintomas de abstinência”, afirmou Lidiane Roque.


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