A confiança dos comerciantes de Manaus esfriou em abril. Os números locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) da CNC apontam para um recuo mensal de 3,4% em relação a março, após quatro meses consecutivos de altas. Sem datas comemorativas, já sob os preparativos para o Dia das Mães, e com receio de uma nova vazante recorde em 2024, os lojistas pioraram sua avaliação principalmente em relação ao momento presente. O indicador, contudo, permanece estável frente ao mesmo mês do ano passado, com progressos nas expectativas de investir e contratar. Em ambos os casos, a cidade seguiu na contramão da média nacional.
Manaus aparece com 111,6 pontos no levantamento, sendo que valores acima de 100 pontos indicam satisfação. O indicador caiu 3,4% na passagem de março (115,6 pontos) para abril. O otimismo ainda é maior nas empresas com até 50 funcionários (111,9 pontos) e que vendem bens semiduráveis (113,2 pontos). No confronto com o mesmo mês de 2023 (111 pontos), a confiança dos comerciantes avançou 0,5%. Na média brasileira (108,1 pontos), o indicador tem pontuação menor, tendo avançado na variação mensal (+2%), pelo quarto mês seguido. Mas, continuou refratário no comparativo anual (-2,9%).
A inflexão negativa do Icec ocorre em um mês de reforço da ICF (Intenção de Consumo das Famílias), medida pela mesma CNC. A alta foi favorecida pela recuperação do otimismo das famílias de menor renda, sendo sustentada por melhora na percepção sobre renda, emprego e acesso a crédito, assim como maior propensão a comprar bens duráveis. Já a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da mesma entidade, aponta nova elevação na quantidade de famílias manauenses embarreiradas por contas a pagar (82,9% e 549.142) e uma leve redução nas fatias das já negativadas (52,5% e 347.550).
Empregos e investimentos
Todos os nove subcomponentes do indicador pontuaram retração em Manaus, sendo que quatro deles se encontram no patamar da desconfiança. A piora mais acentuada veio do conjunto dos subindicadores relativos às condições atuais do comércio (-7,9% e 80,1 pontos), das empresas comerciais (-5,4% e 101,5 pontos) e da economia brasileira (-4,4% e 69,4 pontos). Mas, isoladamente, o tombo mais forte veio do nível de investimento das empresas (-8,6% e 95,6 pontos).
A um mês do Dia das Mães, as projeções relativas à contratação de funcionários (-3,8% e 124,1 pontos) também foram refreadas. Já os componentes do ICEC relativos às expectativas das empresas comerciais (-2,5% e 155,3 pontos), da economia brasileira (-0,6% e 142,3 pontos), e do comércio (-5,5% e 149,1 pontos) desceram menos. Em contrapartida, a insatisfação com a situação atual dos estoques (-0,1% e 87,2 pontos) continuou como uma constante –especialmente diante da necessidade de antecipar compras para prevenir perdas com a vazante de 2024.
A maioria dos varejistas locais ainda considera que as condições atuais da economia “pioraram muito” (34,8%) ou “pioraram um pouco” (33,6%). A fatia relativa aos entrevistados que apontam que a conjuntura “melhorou um pouco” caiu para 21,6%, embora o percentual dos que cravam que “melhorou muito” tenha subido para 10,1%. As visões empresariais predominantes a respeito do comércio e das empresas são de piora relativa (34,7%) e de melhora mais amena (37,5%), respectivamente.
A pesquisa ainda mostra um panorama relativamente melhor para as expectativas de um futuro sempre adiado. A maior parte dos comerciantes de Manaus manteve as apostas de que a economia brasileira vai “melhorar muito” (43,6%) ou “melhorar um pouco” (32,2%). Já os grupos que dizem que vai “piorar muito” (10,7%) ou que vai “piorar um pouco” (13,5%) perderam adeptos. As projeções que pesam mais para o setor e os estabelecimentos também ainda são de progressos mais significativos (45,6% e 48%, na ordem) nos próximos meses.
Em relação à contratação de funcionários, a parte majoritária dos lojistas locais aponta que seus quadros devem “aumentar um pouco” (58%). A parcela dos que dizem que pode “reduzir um pouco” (25,1%) caiu novamente. As visões predominantes para investimentos passaram a cravar que tal disposição pode ser “um pouco menor” (33,6%). Mesmo com a queda do subindicador relativo à situação dos estoques, uma proporção maior de empresários considera que ele está “adequado” (60,3%). Outros 26,2% informam que está acima do ideal –em função de vendas fracas – e 13,5% apontam que está abaixo dessa marca.
“Momento prensado”
Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, ressaltou que o setor ainda conta as perdas decorrentes da crise da vazante e segue tendo as vendas refreadas pelos juros. “Estamos vivenciando um momento prensado. Saímos da estiagem de 2023 e estamos na expectativa de um segundo momento em 2024”, frisou. “A economia está respirando um pouco. Apesar de termos um prognóstico de estiagem, vamos superar parte dos problemas de 2023. Em maio, temos o Dia das Mães, e estamos com a expectativa de que o comércio continue se reinventando, planejando suas vendas com antecedência”, ponderou.
Texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC informa que, ao contrário dos meses anteriores –e do observado em Manaus –, o maior destaque positivo do ICEC em âmbito nacional veio das condições atuais das empresas. “Isso evidencia que os varejistas estão percebendo de maneira mais acentuada os impactos positivos que a economia e o comércio estão exercendo em seus estabelecimentos, indicando uma melhoria significativa do ambiente de negócios”, afirmou o presidente da CNC, José Roberto Tadros, no texto distribuído pela assessoria de imprensa da entidade.
O mesmo texto também diz que o subindicador que mede as expectativas do empresário foi o que menos subiu em todo o país, em abril. “Ou seja, a incerteza econômica para os próximos meses em relação às medidas fiscais e, consequentemente, aos próximos passos da evolução da taxa de juros já está sendo considerada pelos varejistas nas decisões em relação aos seus negócios”, encerrou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.