Reduzir a quantidade de calorias ingeridas pode ser mais eficaz de que jejuar, segundo um estudo da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, publicado na revista Annals of Internal Medicine. O jejum intermitente — agora mais conhecido como alimentação com restrição de tempo (TRE, sigla em inglês) — faz sucesso há pelo menos uma década, especialmente após famosos como Deborah Secco, Sabrina Sato e Jennifer Aniston se tornarem porta-vozes da intervenção alimentar nas redes sociais. Porém, algumas pesquisas questionam a superioridade dos resultados em relação a outros métodos para perda de gordura corporal.
Esse é o caso do estudo, apresentado no Encontro de Medicina Interna do Colégio Norte-Americano de Médicos. Os autores não questionam o sucesso da intervenção — que tem mostrado bons resultados no emagrecimento e na melhora dos níveis de glicose no organismo. Porém, eles afirmam, com base nos resultados da pesquisa, que a perda de peso em adultos com obesidade e pré-diabetes ocorre quando se restringe a quantidade de calorias, independentemente da hora em que elas são consumidas.
A alimentação com restrição de tempo (TRE) é uma abordagem dietética em que os pacientes limitam sua alimentação a uma janela de tempo durante o dia e depois jejuam pelas horas restantes. Nos horários em que podem comer, não é necessário contar calorias nem monitorar a ingestão de alimentos. Mas, em determinados períodos, somente água e bebidas "zero" são permitidas.
Nisa Maruthur, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Johns Hopkins Medicine e autora do estudo, conta que, segundo as evidências científicas, quando adultos com obesidade limitam a sua janela de alimentação entre quatro e 10 horas, há uma redução natural da ingestão calórica de 200 a 500 calorias por dia, com consequente perda de peso. "Não se sabe se a TRE induz o emagrecimento independentemente da redução de calorias, como observado em estudos com roedores", diz.
Para responder à questão, os pesquisadores dividiram aleatoriamente 41 adultos com obesidade e pré-diabetes em dois grupos: TRE com uma janela alimentar de 10 horas ou dieta sem restrição de tempo, por 12 semanas. O objetivo era comparar a perda de peso e taxas metabólicas. No início do estudo, foram avaliados o histórico e o nível de atividade física de cada participante para estimar suas necessidades energéticas.
A quantidade de calorias ingeridas individualmente, por dia, foi a mesma durante os três meses. Além disso, independentemente do grupo em que os pacientes estavam inseridos, as refeições foram preparadas com composições idênticas de macronutrientes e micronutrientes e instruções sobre quando consumir os alimentos.
O grupo de TRE foi instruído a comer apenas entre 8h e 18h e ingerir a maioria de suas calorias antes das 13h, todos os dias. Já os pacientes do padrão habitual era alimentado entre 8h e 0h, comendo a maior parte depois das 17h. Passadas 12 semanas, todos perderam aproximadamente a mesma quantidade de peso (2,6kg entre os que jejuaram, e 2,3kg nos demais). Além disso, não houve diferença na taxa de glicemia em jejum, na medida da circunferência arterial, nos níveis lipídicos e na pressão arterial.
Segundo os autores, os resultados sugerem que, quando intervenções TRE resultam na perda de peso, provavelmente isso ocorre devido à redução nas calorias, e não no horário em que são consumidas. Maruthur observa que o estudo foi pequeno, mas enfatiza que nada indicou, na pesquisa, um benefício adicional do jejum para perda de peso e outros parâmetros investigados.
O estudo recém-publicado vai ao encontro de uma pesquisa da Associação Norte-Americana do Coração, de 2023, que acompanhou por seis anos 550 adultos que registraram em um aplicativo específico, o Daily24, os horários de dormir, comer e acordar em cada janela de 24 horas, em tempo real. Os voluntários também detalharam o tipo e a quantidade de alimentos consumidos.
No fim, o horário das refeições ou o intervalo entre elas não influenciam no ganho, ou perda de peso. Já a frequência — comer muito — e a quantidade de calorias por porção — mais de 1 mil — foram associadas ao aumento de gordura corporal. Os que ingeriam refeições estimadas em menos de 500 calorias, por sua vez, emagreceram. Os autores escreveram no artigo que "embora estudos anteriores tenham sugerido que o jejum intermitente pode melhorar o ritmo circadiano e regular o metabolismo, este estudo num grande grupo com uma ampla gama de pesos corporais não detectou a ligação".
A nutricionista Caroline Medeiros, responsável técnica da Policlínica do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) lembra que seguir dietas populares — seja jejum, restrição de carboidrato ou da sopa — sem orientação profissional pode acarretar danos à saúde. Ela destaca que qualquer intervenção dietética deve ser individualizada e personalizada, levando em consideração aspectos socioeconômicos, culturais, pessoais e físicos do paciente.
"Quando se faz uso de uma dieta generalizada, sem levar em consideração esses pontos, a pessoa pode enfrentar várias consequências adversas", afirma Medeiros. "Essas dietas, muitas vezes promovidas como soluções rápidas ou universais para a perda de peso ou melhoria da saúde, ignoram a complexidade e a singularidade do organismo de cada um", destaca.
"A descoberta de que a alimentação com restrição de tempo (TRE) não resulta em mais perda de peso do que o esperado pela redução nas calorias ingeridas não deveria surpreender ninguém. Se a alimentação com restrição de tempo tivesse um efeito sobre o peso corporal para além da restrição calórica, isso implicaria que 'aumenta o metabolismo', ação sobre a qual não há a menor evidência em humanos. Isso não quer dizer que comer com restrição de tempo não seja uma boa maneira de perder peso: ajuda claramente algumas pessoas a reduzir a ingestão de calorias. Mas este estudo mostra que não existe efeito 'mágico',