Há coisa de seis anos atrás, facões em punho, José do Carmo Alves e sua irmã, Maria das Neves Alves Basto, voltaram a trilhar a estrada de seringueiras da área de floresta amazônica que lhes pertence, no município de Inhangapi, nordeste do Pará.
Nos troncos das árvores, ainda encontraram as cicatrizes dos cortes que haviam talhado 30 anos antes, no fim dos anos 1980, quando, de uma hora para a outra, pararam de extrair o látex – porque já não conseguiam mais vender a borracha que produziam.
Ao longo das décadas que passaram, as seringueiras permaneceram intocadas. A família extrativista sobreviveu de outras riquezas da floresta: a coleta de castanha do Pará e de açaí.
Até que apareceu um comprador dizendo que, se voltassem a produzir borracha, pagaria não apenas o valor da matéria-prima, mas um adicional por serviços ambientais – ou seja, o serviço de manter a floresta em pé. Os irmãos seringueiros retomaram a produção, e a borracha passou a ser parte essencial dos produtos sazonais da floresta que compõem os ganhos da família ao longo do ano.
“É uma ajuda muito grande na renda. Uma árvore dessas aqui é fundamental para a gente que conhece o ramo, extrai o látex e sabe trabalhar a borracha. É muito bom”, diz José do Carmo, 65 anos, enquanto abre um risco no tronco de uma seringueira e deixa escorrer o seu látex.