Do ATUAL
MANAUS – A alagação de ruas, becos e transbordamento de igarapés em Manaus não é efeito único de chuvas intensas como a da tarde desta sexta-feira (24). É consequência também das intervenções humanas no ambiente urbano, afirma a arquiteta Melissa Toledo, que é urbanista e vice-presidente do CAU-AM (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Amazonas).
“A urbanização sem planejamento adequado tem causado danos irreparáveis. Embora avanços tecnológicos e o desenvolvimento urbano tenham trazido benefícios à sociedade, a falta de infraestrutura adequada e a gestão ineficiente dos recursos naturais tornam nossas cidades mais vulneráveis”, diz.
As enchentes, segundo a arquiteta, refletem problemas de planejamento urbano e de ocupação do solo. Melissa Toledo diz que o crescimento desordenado das cidades, a ocupação de áreas de várzea e a impermeabilização do solo aumentam significativamente a pressão sobre os sistemas de drenagem urbana, que muitas vezes não conseguem suportar chuvas intensas ou frequentes. O descarte irregular de lixo agrava a obstrução desses sistemas, potencializando o impacto das chuvas.
Foi chuva intensa, aliada a infiltração de água no solo por ligação clandestina e acúmulo de lixo, que causou o deslizamento de barranco no último domingo (19) em Manaus. Uma família foi soterrada em área de risco no bairro Redenção, na zona oeste. Pai e filha de 8 anos morreram soterrados.
Soluções de curto e longo prazo
Melissa Toledo sugere que as soluções para as alagações devem ser abordadas em duas frentes: ações imediatas e planejamentos de longo prazo. No curto prazo, ela destaca a necessidade de:
Manutenção e limpeza dos sistemas de drenagem;
Gestão eficiente de resíduos sólidos;
Implementação de reservatórios de água em empreendimentos e áreas públicas.
Para soluções a longo prazo, é essencial:
Promover a desocupação de áreas de risco, como regiões de várzea ou encostas;
Investir em regularização fundiária e habitação adequada;
Integrar soluções de infraestrutura verde e serviços ecossistêmicos às políticas urbanas, como pavimentação permeável, telhados verdes e jardins de chuva.
“Não existe uma solução única ou imediata. Cada cidade possui particularidades regionais que exigem ações personalizadas. Contudo, todas as intervenções devem ser guiadas por um planejamento urbano sustentável e por uma sociedade mais consciente e participativa”, ressalta a arquiteta.
Para Melissa, a educação ambiental urbana é fundamental. “Precisamos sensibilizar a população sobre o impacto de suas escolhas cotidianas, desde o descarte correto do lixo até o respeito às áreas de preservação. A participação cidadã nas políticas urbanas é essencial para construir cidades mais resilientes”.
Veja vídeo do momento em que parte do barranco desaba.