Do ATUAL
MANAUS – O Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) recebeu nesta terça-feira (18) mais um filhote de peixe-boi da Amazônia, resgatado no município de Silves (a 204 quilômetros de Manaus). Com o resgate, são 52 filhotes recebidos pelo Inpa desde 2020 até junho deste ano, sendo que 65% deles são de municípios do Baixo Amazonas.
Conforme o veterinário da Prevet, empresa que presta assistência veterinária ao Inpa, Anselmo D’Affonseca, o número serve alerta para que a fiscalização nesses municípios seja intensificada, pois há uma cultura do comércio e consumo da carne de peixe-boi no interior do Amazonas.
O peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é considerado vulnerável (corre alto risco de extinção), na lista de espécies ameaçadas e está protegido por lei desde 1967 pela Lei de Proteção à Fauna nº 5.197/67.
No dia 6 de junho, o Inpa recebeu um filhote de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), na região do Baixo Amazonas. Conforme os veterinários, é mais um órfão da caça ilegal. Uma semana após o resgate, uma ação de fiscalização da Secretaria do Meio Ambiente de Parintins apreendeu, em uma feira livre da cidade, 12 quilos de carne de peixe-boi.
“Isso é algo que precisa ser levantado e fiscalizado. Penso que o trabalho de reabilitação, educação ambiental, conscientização, deve estar acompanhado de ações de fiscalização. Nós sabemos que o hábito de consumo e o comércio de carne de caça é uma realidade na Amazônia. A falta de fiscalização acaba estimulando as pessoas a matar essa espécie para a venda da sua carne”, diz o veterinário.
Hoje, o Instituto tem 57 animais nos tanques em Manaus, entre filhotes, jovens e adultos, e 23 animais em preparação para soltura, com previsão ainda para 2024.
Em parceria com a Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa), o Inpa reintroduziu 42 animais na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus. A última soltura foi em 2019. O Projeto recebe o apoio do SeaWorld & Busch Gardens Conservation Fund.
Segundo D’Affonseca, nos últimos anos houve um aumento considerável de resgate de filhotes. Em 2018, o Inpa recebeu cinco filhotes, chegando a 16 em 2023 e oito até este mês de junho. “Nos preocupa também porque sempre tem o relato de que o filhote teria sido encontrado na malhadeira. Então, começamos a suspeitar que esses relatos possam ser falsos, e, na verdade, as pessoas podem estar encobrindo um crime de caça e venda ilegal do peixe-boi”, diz Anselmo D’Affonseca.
Seca e o aumento da caça
Durante a seca dos rios, que é um fenômeno natural na Amazônia, os peixes-bois migram dos lagos para os rios mais profundos, o que aumenta a vulnerabilidade dos animais, pois podem ser avistados pelos caçadores nos pontos de passagem entre os lagos e os rios.
Mesmo que consigam chegar aos rios, estão mais indefesos. É que nessa época de seca os rios estão bem mais rasos e com sua área reduzida.
Além disso, a seca extrema agrava muito mais a situação, tanto pela restrição dos animais em áreas muito menores e rasas, quanto pela dificuldade para a fiscalização devido à falta de acesso a algumas áreas afetadas, o que dificulta os órgãos de fiscalização agirem com base em denúncias.