Do ATUAL
MANAUS – A Polícia Civil do Amazonas indiciou Cleusimar Cardoso, a mãe da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, pelo crime de tortura com resultado de morte da própria filha por conta de abusos na aplicação de substâncias psicotrópicas. Outras dez pessoas também foram indiciadas pelos crimes de tortura, tráfico de drogas e associação para o tráfico, incluindo o irmão de Djidja, Ademar Farias Cardoso Neto.
As informações sobre a conclusão do inquérito policial foram prestadas nesta quinta-feira (20) em entrevista a jornalistas concedida pelo delegado Cícero Túlio, do 1º DIP (Distrito Integral da Polícia). Ele comandou a Operação Mandrágora, que investigou crimes praticados pela família de Djidja.
“A Cleusimar passou a cometer abusos na forma de tortura em relação à Djidja no momento em que eles perceberam que a Djidja estava em uma situação de quase morte, já estava em situação de estágio terminal. A partir da análise do conteúdo residente nesses aparelhos telefônicos [apreendidos com a família], conseguimos a confirmação e constatação que efetivamente existia o crime de tortura praticado pela Cleusimar em relação à Djidja”, afirmou Cícero Túlio.
Cícero disse que houve a criação de uma seita religiosa onde havia o fomento de prática do tráfico de drogas. “Os familiares que fundaram essa seita ofereciam e induziam os funcionários de uma grande rede de salões de beleza sediada no estado do Amazonas a utilizar a substância ketamina [cetamina] e Potenay”, afirmou Cícero.
De acordo com o delegado, a família de Djidja usava substâncias entorpecentes, como maconha, mas o primeiro a ter contato com a ketamina foi Ademar. Ele experimentou a substância, que é um forte analgésico usado em cavalos, quando morou em Londres, na Inglaterra, com uma ex-companheira. Cícero disse que a família decidiu mandar Ademar para outro país porque ele estava em nível avançado de vício em drogas.
“Lá em Londres ele passa a torturar sua companheira obrigando ela a usar a mesma substancia e outras. Em razão de problemas com fornecedores desse material lá, ele acaba retornando ao Brasil meio que fugindo de ações de criminosos de Londres, se separa a ex-companheira e conhece a Audrey [Silveira], que figura como vítima”, disse Cícero.
Ainda conforme o delegado, no Brasil, Ademar procura pela ketamina. A ex-companheira dele diz que conhece um casal que poderia ter facilidade na compra das substâncias e eles oferecem à família de Djidja a ketamina em pó.
Naquele momento, segundo o delegado, Cleusimar já estudava sobre o livro Cartas de Cristo, que fala sobre “transcender da consciência humana mediana para alcançar o nível da consciência Crística de Jesus”. A mãe de Djidja convida o casal para participar do que ela chamava de “meditação”.
A partir desse momento, segundo as investigações, Cleusimar, que é formada em química, faz estudos sobre a substância e descobre que a forma injetável subcutânea é mais rentável. Ela oferece a ketamina injetável para o casal, que decide se afastar por não concordar com as práticas na seita porque eles induziam as pessoas a usarem a droga.
As investigações apontam que a família de Djidja começa a expandir a seita, induzindo funcionários da rede de salões da ex-sinhazinha.
Em algum momento, a família tem dificuldade para comprar a ketamina. Foi quando Bruno Roberto, que era namorado de Djidja e que também integrada a seita, apresentou o personal trainer Hatus Silveira. Para Cícero Túlio, Hatus foi a “ponte” entre a família e José Máximo Silva de Oliveira, dono da clínica veterinária Max Pet, que tinha facilidade em adquirir a substância.
Hatus, segundo a polícia, foi quem apresentou para uso da seita a Potenay, medicamento de uso veterinário também aplicado em animais de grande porte. Cleusimar também estudou sobre essa substância e descobriu que o uso injetável traria efeitos psicotrópicos.
As investigações contra a família de Djidja começaram após Audrey Silveira, ex-namorada de Ademar, ser resgatada pela família. Cícero disse que ela estava em situação deplorável pelo uso da ketamina. Para o delegado, ela estava em situação de cárcere privado e foi torturada por Ademar.
A polícia descobriu que a família pretendia criar uma vila na zona norte de Manaus em que os moradores seriam usuários das substâncias.
Confira a lista de indiciados:
- Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja Cardoso
- Ademar Farias Cardoso Neto, irmão de Djidja Cardoso
- Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro e maquiador
- Claudiele Santos da Silva, maquiadora
- Verônica da Costa Seixas, gerente do salão de beleza
- Bruno Roberto Lima, ex-namorado de Djidja
- Hatus Silveira, personal trainer
- José Máximo Silva de Oliveira, dono da clínica veterinária MaxVet
- Savio Pereira, funcionário da clínica MaxVet
- Emicley Araújo, funcionário da clínica MaxVet
- Roberleno Ferreira de Souza, dono da clínica veterinária Casa do Criador