A 27ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27) foi realizada sob as expectativas geradas pelos resultados do relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em fevereiro deste ano. O documento destaca – agora com mais dados em relação ao relatório anterior – os efeitos das mudanças climáticas no planeta.
Acompanhe a cobertura completa da COP27.
As declarações de Patrícia Espinosa, secretária executiva da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), reforçam o cenário de expectativa. De acordo com ela, “a ciência é clara: devemos ver mais ações [extremas] do clima nesta década, e se quisermos alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e, em última análise, a meta de 1,5 grau, precisamos acelerar as ações [para promover a neutralidade de carbono]”, disse em janeiro último.
O apelo da executiva da ONU aconteceu um dia antes da reunião ministerial do Fórum das Grandes Economias de Energia e Clima, grupo de países responsáveis por cerca de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE).
Cenário de mudanças climáticas se agravou, segundo IPCC
A COP27 acontece num cenário de pressão, uma vez que os países estão longe do nível de ambição necessário para alcançar as metas do Acordo de Paris, segundo a ONU.
Ainda na reunião anterior (COP-26), foi tomada uma decisão exigindo que todos as nações apresentassem planos mais fortes anualmente, a partir de 2022. Para Espinosa, existem áreas que exigem progresso específico na preparação para a COP27, incluindo redução de emissões, adaptação aos impactos das mudanças climáticas e financiamento climático, com foco no financiamento para adaptação.
Na COP26, os governos concordaram com a necessidade de fornecer mais apoio aos países em desenvolvimento e pediram que o financiamento da adaptação fosse dobrado.
Clima, adaptação e vulnerabilidade devem ser principais temas da COP27
De forma geral, o mais recente relatório do IPCC tem como foco os impactos no clima, adaptação e vulnerabilidade, temas que devem fazer parte da agenda do encontro que acontece no Egito.
Na opinião da The Nature Conservancy (TNC), o relatório mostra algumas coisas parecidas com o anterior, mas traz mais dados que descrevem os efeitos das mudanças climáticas com mais exatidão. “O aumento da frequência e intensidade desses eventos ameaçam a saúde e a segurança de milhões de pessoas ao redor do mundo, tanto por impacto direto quanto por consequências das dificuldades para produção de alimentos e acesso a água potável”, destaca o TNC.
Um dado preocupante e que deve ser bastante debatido é o fato de os cientistas detalharem que as temperaturas mais altas estão levando a mais “extremos compostos.” Isto é, quando várias ameaças climáticas (como temperaturas extremas e precipitação) ocorrem ao mesmo tempo e no mesmo lugar e/ou repetidas vezes.
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Um exemplo de efeitos das altas temperaturas constantes pode ser a redução da umidade do solo, o que vai reduzir igualmente o crescimento das plantas, que diminui as chuvas locais, levando à mais secas e a todas as suas consequências.
TNC reforça energia limpa como ação para a COP27
Além de ressaltar os desafios atuais, o TNC também lista uma série de ações que podem combater os efeitos das mudanças climáticas. É possível que grande parte dessa agenda seja discutida na COP27, a começar pela aceleração da transição global para fontes de energia limpas.
Outra iniciativa global é fortalecer a habilidade da natureza em combater as mudanças climáticas. Isso também significa encontrar maneiras de produzir alimentos de forma mais sustentável e criar fontes de água com resiliência climática. A assistência às comunidades marginalizadas, que são mais afetadas, é outro tema que provavelmente será discutido no Egito.
Países pobres emitem menos CO2, mas arcam com as consequências globais
Por acontecer na África, a COP27 traz a discussão para um cenário local, além da extensão para os países árabes do Oriente Médio. Vários especialistas indicam que o encontro em Sharm El-Sheik será crucial para a resposta da África às mudanças climáticas.
A conferência representa uma oportunidade para que os países africanos transmitam sua principal mensagem: são as nações mais pobres que sofrem as consequências de mudanças climáticas, apesar de sua contribuição limitada para as emissões globais. Além disso, eles precisam de assistência mais séria para mitigar riscos e danos e atingir metas de emissões zero que são “ambiciosas”.
Hamdi Sanad Loza, vice-ministro das Relações Exteriores para Assuntos Africanos do Egito, enfatizou em comunicado ao Daily News Egypt a vontade dos egípcios de que a próxima cúpula do clima reflita as posições dos países africanos e em desenvolvimento e transforme promessas e compromissos em ações. Loza também apontou para o fracasso dos países desenvolvidos em cumprir promessas anteriores de fornecer US$ 100 bilhões em assistência anual aos países em desenvolvimento para apoiar sua transição verde.
Acompanhe o Além da Energia para obter informações sobre essas e outras discussões da COP27 ao longo dos próximos dias.