por Altamiro Borges, no seu blog
No final de maio, a Polícia Federal apreendeu uma aeronave que transportava 290 kg de maconha. Na ocasião, o jornal O Globo informou que “o avião pertence à Igreja Quadrangular do Pará, cujo presidente do conselho estadual é o tio da senadora Damares Alves, o ex-deputado federal Josué Bengston. Pastor evangélico filiado ao PTB, Bengston esteve na Câmara dos Deputados por quatro mandatos (entre 1999 e 2007, 2011 e 2018)”.
A reportagem também revelou que “muito antes da senadora ganhar projeção nacional enquanto ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo de Jair Bolsonaro (PL), o tio foi o seu primeiro padrinho político e a empregou como auxiliar parlamentar em seu gabinete. Na Câmara, ele integrou a oposição aos governos do PT. Em 2016, chegou a votar a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”.
O pastor metido na “máfia das ambulâncias”
O deputado-pastor teve seu mandato cassado pela Justiça Eleitoral em 2018 após investigação do Ministério Público Federal que apontou enriquecimento ilícito por desvio de recursos da saúde do Pará. “De acordo com os autos, ele direcionava emendas à municípios em que as licitações eram fraudadas e o dinheiro depositado em sua conta e na conta da Igreja Quadrangular. O esquema ficou conhecido como ‘a máfia das ambulâncias’. Além da perda do mandato, ele ficou inelegível por oito anos e foi condenado a pagar R$ 150 mil em multas”.
A exemplo da ex-ministra e atual senadora, Josué Bengston sempre foi um reacionário convicto. Em 2020, após sua cassação ruidosa, ele viralizou nas redes digitais ao dar uma declaração asquerosa num culto. Ao criticar as cotas nas universidades destinadas à população negra e de baixa renda, o bolsonarista rosnou: “Não voaria em um avião pilotado por alguém que entrou por cota na faculdade. Você deixaria seu coração ser operado por um médico que entrou na faculdade por cota? Neste mundo, a meritocracia que deve funcionar é o esforço”.
Já agora, o tio-pastor da senadora – também apelidada de Damares da Goiabeira – voltou aos holofotes com a apreensão do avião com 290 kg de maconha. Logo após a operação da polícia, a ministra até tentou aliviar a barra do tio jurando que foi a própria igreja que denunciou a carga criminosa. A mentira, porém, não durou muito tempo. Em nota, a PF afirmou que a ação ocorreu “a partir de informações de inteligência do Núcleo de Polícia Aeroportuária”, sem qualquer informação sobre o suposto alerta por parte dos envolvidos. A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) também já vinha monitorando a aeronave faz tempo.
Apesar da gravidade do caso, que envolve uma igreja e um pastor ficha-suja, tio de uma senadora, ele já sumiu da mídia. Virou pó! Subiu na goiabeira!
- Altamiro Borges é jornalista membro do Comitê Central do PCdoB – Partido Comunista do Brasil, autor do livro “Sindicalismo, resistência e alternativas