Chocolates, sorvetes, margarina, pizzas, detergentes, cremes hidratantes, batons estima-se que cerca de 50% dos produtos nas prateleiras de supermercados têm, entre seus ingredientes, o óleo de palma, também utilizado em produtos veganos e orgânicos, fármacos, lubrificantes e biocombustíveis.
Essa versatilidade, aliada a uma produtividade até 30 vezes maior à de outras oleaginosas e a um custo de produção menor, faz dele o óleo vegetal mais consumido. E, por consequência, um dos grandes impulsionadores do desmatamento de florestas tropicais no mundo.
No Brasil, décimo maior produtor mundial do óleo, a legislação é rigorosa. A palma pode ser cultivada apenas em áreas já degradadas e, para cada hectare de palmeira, o proprietário da terra deve manter outro preservado ou reflorestado.
Num setor que convive com controvérsias ambientais e sociais, a Agropalma, maior produtora de óleo de palma sustentável do país e das Américas, vai além de cumprir a legislação e tem conseguido aliar lucro e produtividade a uma série de práticas ESG,
como rastreabilidade da cadeia de fornecedores, incentivo à agricultura familiar, equidade de gêneros na mão de obra e preservação da biodiversidade.
A produção de óleo da agropalma é verticalmente integrada. a empresa tem plantações próprias, seis indústrias extratoras, duas refinarias e um terminal de exportação.
As terras estão no Pará, a maior parte na cidade de Tailândia. São 107 mil hectares, 64 mil deles de reserva florestal protegida, que a própria companhia gerencia e preserva. A legislação exige que pelo menos 50% da área seja protegida. A reserva da Agropalma chega a 60% da área.
São 39,6 mil hectares plantados com palma, 4.087 hectares deles já orgânicos e outros 3.965 hectares sendo convertidos (a empresa é o segundo maior produtor de palma orgânica do mundo). As plantações próprias respondem por 76,5% das 785 mil toneladas do fruto fresco que a empresa processa anualmente Os dados são do novo relatório de sustentabilidade da empresa.
O monitoramento sobre os fornecedores externos, de onde vêm os outros 23,5% da palma (5,9% de agricultores familiares, 16,2% de pequenos e médios produtores integrados e 1,4% de uma empresa vizinha), é bastante minucioso.
Uma equipe da Agropalma avalia cada um dos 245 agricultores parceiros (202 agricultores familiares e 43 produtores integrados) para garantir que seus frutos não estejam associados a desmatamento, conflitos fundiários ou problemas trabalhistas.
Além disso, é feita uma análise para entender o histórico da terra e ter certeza de que as áreas das plantações não violam a data limite para desmatamento estabelecida no país desde 2008. Checa-se também se o plantio está de acordo com o zoneamento agroecológico da palma. Por fim, a equipe faz visita e entrevistas para avaliar as condições de trabalho dos agricultores.
O óleo comprado de outras empresas também é rastreado até as indústrias extratoras para garantir que os padrões da empresa são atendidos.
AGRICULTURA FAMILIAR
Para garantir uma cadeia de fornecedores confiáveis e de alta qualidade, a Agropalma investe, desde 2002, em um programa de agricultura familiar que dá treinamento e suporte a agricultores locais. No início, compreendia 50 famílias. Hoje são 202.
A empresa garante a compra de toda a produção desses agricultores, gerando renda bruta anual média de R$ 95 mil, ou R$ 7,9 mil mensais (em 2021), valores muito acima das médias brasileiras – segundo o IBGE, a renda familiar per capita mensal do brasileiro em 2021 foi de R$ 1,4 mil. Pelos dados do Banco Mundial, a renda per capita média mensal naquele ano foi de aproximadamente R$ 3,4 mil.
A produtividade dos agricultores do programa é considerada de classe mundial. Em 2017, a produção média era de 24,45 toneladas de CFF por hectare. Em 2021, aumentou para 26,31 toneladas.
A parceria não é uma ação de filantropia”, diz Tulio Dias Brito, diretor de sustentabilidade da Agropalma. “Ela traz estabilidade para todos, e a empresa precisa dos frutos produzidos por essas famílias.”
INOVAÇÃO
Crescer sem abrir mão da sustentabilidade envolve um investimento grande em tecnologia concentrada em quatro aspectos: mecanização, técnica agronômica, conectividade e análise de dados.
A empresa tem apostado em pesquisas e desenvolvimento para ter sementes mais produtivas, modernizar a gestão e as práticas agrícolas, reduzir custos em longo prazo e aumentar a segurança dos funcionários.
Está nos planos inaugurar, ainda em 2023, um laboratório de clonagem sem organismos geneticamente modificados (OGM). O objetivo é padronizar um material genético de alta qualidade capaz de aumentar a produtividade da plantação.
Na indústria, procedimentos atualizados de gestão do vapor e novos equipamentos no processo de esterilização pretendem aumentar gradativamente as taxas de extração do óleo de palma bruto.
Em 2017, a taxa era de 17,94%, em 2021 atingiu 18,87% e a meta é chegar a 19% até o fim deste ano. Para isso, a Agropalma deve colocar em operação um novo sistema de prensagem de cacho vazio para melhorar o desempenho industrial.
MEIO AMBIENTE
A refinaria mais nova da empresa, inaugurada em 2016 em Limeira, no interior de São Paulo, foi construída de acordo com elevados padrões ambientais. As caldeiras utilizam gás natural como combustível, com emissões mais baixas de carbono e menos poluentes liberadas para a atmosfera.
Para reduzir o consumo de energia elétrica, a iluminação por energia solar foi instalada em todas as estradas de acesso.
Outras mudanças que estão contribuindo para a redução das emissões são o uso de pelo menos dois caminhões movidos a gás natural e a futura implementação de um novo sistema de tratamento de efluentes na nova indústria extratora, com dois biorreatores preparados para captura de metano.
É um desafio grande e estamos em busca de potenciais parceiros e soluções”, explica Brito. A meta é concluir a implementação do sistema de captação de metano nesta e em outras três indústrias extratoras da empresa até 2025.
ara os caminhões, a principal questão é o abastecimento. Em algumas regiões, é difícil encontrar esse tipo de combustível. “Mas esses são desafios que só serão vencidos com o tempo se começarmos a utilizar esses recursos”, afirma Brito.
PRESERVAÇÃO
Ao mesmo tempo em que atua para reduzir suas emissões, a empresa faz um trabalho consistente de preservação de florestas.
Uma parceria com a ONG Conservação Internacional (CI), estabelecida há 17 anos, já registrou 1.029 espécies da fauna brasileira nas reservas da empresa, 40 delas ameaçadas de de extinção e 11 endêmicas do Centro de Endemismo Belém (CEB).
Este monitoramento da biodiversidade é um termômetro importante, porque há espécies indicadoras de preservação, como a anta, por exemplo, e a onça pintada”, explica Brito.
A empresa mantém 30 vigilantes florestais permanentes no Pará que percorrem a reserva para recolher armadilhas, orientar event ventuais caçadores sobre a ilegalidade da atividade no local e reportar qualquer tipo de irregularidade às lideranças.
Já na região da refinaria de Limeira, cerca de 2,5 hectares de Mata Atlântica foram restaurados pela empresa, e 100 espécies de árvores nativas foram plantadas.
Essas reservas florestais, que sequestram mais de 416 mil toneladas de CO2eq a cada ano, permitem que a Agropalma tenha um balanço de carbono negativo.
Em 2021 a Agropalma avançou para gerar valor a partir do carbono capturado pelas florestas preservadas. Firmou uma parceria com a Biofílica Ambipar, empresa especializada em conservação de florestas e comercialização de serviços ambientais, no projeto Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+).
O projeto irá se somar aos investimentos já feitos pela empresa para mitigar as mudanças climáticas e também para fomentar o desenvolvimento socioeconômico e sustentável das comunidades locais.