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Brasil

Especialistas entrevistados pela CNN alertam: Juros de 13,5% inviabilizam o agronegócio

Publicada em 21/03/23 às 09:23h - 14 visualizações

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Especialistas entrevistados pela CNN alertam: Juros de 13,5% inviabilizam o agronegócio
Onze de Maio 4 dias atrás  (Foto: Rádio Rir Brasil Amazonas - Direção:Eneida Barauna e Ronaldo Castro - 92 98607-0010)

Pesquisa Quaest mostra que banqueiros da Faria Lima são contra redução dos juros pelo BC, mas o setor produtivo já entendeu a armadilha do Banco Central Independente para a economia

Nesta semana pesquisa do Instituto Quaest ouviu 82 executivos dos maiores fundos de investimentos do país e para 59% destes executivos a taxa de juros 13,75% é a ideal para o país. E de acordo com a Quaest, para 98% destes executivos do mercado financeiro a política econômica do país está indo na direção errada, ou seja, são contra as falas do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que é preciso abaixar os juros no Brasil.

Mas para o setor produtivo a visão é outra, e quem está errado são os rentistas da Faria Lima, avenida da cidade de São Paulo que concentra o maior número de bancos e agências de investimentos do país.

Empresários do agronegócio querem juros menores

Especialistas ouvidos pela CNN Brasil alertam que a atual taxa de juros do Banco Central é prejudicial a um dos setores mais dinâmicos da economia nacional, o agronegócio. De acordo com eles, o encarecimento do mercado de crédito atravanca o acesso a insumos, tecnologias e áreas agriculturáveis, afetando a produtividade do setor.

Um dos que advertem sobre o elevado patamar dos juros no Brasil é  Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP Investimentos.

“Um cobertor mais curto dificulta a compra de insumos e tecnologias para conseguir sustentar a produção de alimentos. Sem dúvidas, o Brasil conseguiria aumentar muito mais a produção do agro se tivesse mais acesso ao crédito. O Plano Safra é interessante nesse ponto por empregar taxas de juros mais baixas, mas não é o suficiente para sustentar o desenvolvimento da agricultura.”

Plano Safra é o principal programa de financiamento do governo federal para a atividade agrícola, destinado a pequenos, médios e grandes produtores. Cada um desses três grupos recebe volumes diferentes de recursos, e a taxa de juros aplicada também varia considerando o tamanho da produção.

Atualmente, os valores disponibilizados para a safra 2022/2023 giram em torno de R$ 53 bilhões para o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), destinado aos pequenos produtores, com taxas em torno de 5% ao ano. Para os produtores que se encaixam no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp), são R$ 44 bilhões, com juros de 8%.

Porém, segundo os especialistas ouvidos pela CCN Brasil , só o Plano Safra não é o suficiente. Segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o setor demanda mais de R$ 1 trilhão ao ano em recursos — e 1/3 desse valor advém do programa do governo federal. O restante é viabilizado por empresas privadas, mais suscetíveis às taxas de juros de referência do país.

“Se os produtores precisam buscar os outros 2/3 no mercado privado, que é pautado pela Selic, os investimentos são menores. Não fomentar investimentos reduz a tecnologia empregada, que, por sua vez, reduz a produtividade. Nós já temos diversos anos de atraso nesse sentido, fora os gargalos no setor produtivo que vieram com a pandemia”, afirma Guilherme Rios, assessor técnico da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).

Juros altos: ruim para os pequenos produtores, péssimo para os grandes

Guilherme Rios da CNA diz que esse cenário chega a afetar os grandes produtores e as empresas com capital aberto na Bolsa de Valores. “Como a economia é toda interligada, os custos também são. O impacto da taxa é para todo mundo, e as grandes empresas podem sofrer com uma redução de áreas produtivas.”

Leonardo Alencar, da XP, menciona ainda outro impacto aos grandes produtores: a viabilização de projetos de médio e longo prazo e o valor de mercado de empresas de capital aberto.

“Uma empresa com lista de projetos, seja investimentos em usina, seja em melhora tecnológica, está sempre pensando no retorno, e isso é muito sensível a custo de capital. Na prática, empresas que tinham muitos projetos provavelmente tiveram que engavetá-los por causa dos juros, já que o retorno, nesse cenário, é prejudicado”, explica.

“Na outra ponta, empresas listadas na Bolsa têm seu valor de mercado avaliado sempre com base nas perspectivas de caixa futuras, descontados os custos de capital. Quando essa taxa de desconto aumenta, o valor da empresa diminui, e isso impacta na Bolsa.”

Clique AQUI e veja o vídeo da matéria da CNN

Não há inflação de demanda para justificar juros de 13,75%

Do ponto de vista do consumo doméstico, Leandro Gilio, professor e pesquisador sênior do centro de Agronegócio Global do Insper, chama atenção para a redução da demanda do consumidor.

O especialista explica que o consumo é afetado não só pela redução da produtividade — que, pela lei da oferta e demanda, tende a encarecer os produtos –, mas também pelo desaquecimento da economia como um todo.

“A Selic alta impacta em uma menor dinamização da atividade, que afeta renda e emprego. Isso diminui a demanda por produtos, notadamente aqueles de grande volume e mais caros, como as proteínas animais”, explica.

“Se o consumidor tem uma renda mais afetada, ele costuma optar por produtos mais baratos, o que pode diminuir o consumo doméstico de determinados ramos do setor,” pontua.

O efeito da crise americana

Diante de uma crise que se avizinha nos Estados Unidos em decorrência do colapso financeiro do Silicon Valley Bank (SVB), na semana passada, é necessário preparar o terreno no Brasil para, o quanto antes, reduzir os juros. Caso a crise se alastre por lá, analistas apontam que haverá impacto nas demais economias do planeta.

A discussão começa a tomar maior corpo na economia americana, cujo aperto monetário desde a eclosão da pandemia, em 2020, com ciclos cada vez mais altos de juros, não freou a pressão inflacionária, e hoje responde por boa parte da desaceleração da atividade no ano passado.

A respeito da crise bancária nos Estados Unidos e na Europa o jornalista José Paulo Kupfer escreveu o artigo “Remédio dos juros altos virou veneno”. Segundo o analista econômico, a quebra dos bancos e o espectro de recessão global mostram os limites de políticas monetárias restritivas.

Ele inicia o artigo literalmente chutando o balde:


“Nada como corridas bancárias para jogar no chão a hipocrisia de que bancos centrais tomam decisões apenas técnicas. Sem grandes alerações nas perspectivas de inflação dos Estados Unidos, bastou um banco regional médio americano abrir o bico, depois de uma onda de saques, para que acontinuidade do ciclo de altas dos juros básicos cedesse lugar a uma expectativa de início mais próximo e mais rápido do corte das taxas”, comenta.

Segundo Kupfer, “não está sendo diferente no Brasil, onde uma sequência de quebras de empresas do varejo (no caso as Americanas) já está revertendo as expectativas de que o BC só comece a cortar os juros no fim do ano”.

Os alertas dentro do Brasil (quebra das Americanas) e fora quebra do Credit Suisse (Suíça) e do Silicon Valley Bank (EUA). O consumo está caindo no Brasil e o país já vive uma crise de crédito, portanto, como alertam os analistas econômicos, não dá mais para o presidente do Banco Central ficar inerte, pensando que só ele está certo em manter o Brasil com a maior taxa de juros do mundo.

Com informações da CCN Brasil, Poder360 BdF, Revista Rural e agências




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