A escassez de crédito, um dos efeitos da insistente manutenção das altas taxas de juros pelo Banco Central (BC), vem inibindo a atração de investimentos no país desde a disparada do indicador, a partir do início de 2021. Após a quebra das Americanas, uma retração do crédito aumentou o risco de uma crise sistêmica no mercado. O cenário exige uma redução urgente da taxa básica de juros, atualmente em 13,75%, apontam analistas. Em outras palavras, é preciso desarmar a bomba-relógio deixada pelo governo anterior, na forma de juros extorsivos, um mecanismo que tem funcionado para agravar o endividamento de empresas e famílias, sabotando o crescimento do país.
A Americanas declarou um total de R$ 43 bilhões em dívidas, após pedir recuperação judicial em janeiro. “Se, de fato, o evento Americanas tem essas ramificações sistêmicas, a perspectiva de queda da inflação futura aumenta, porque há uma possibilidade de desaceleração mais forte da atividade”, explicou o economista e ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon, em entrevista à CNN.
Por isso, Volpon, um analista de mercado e notório defensor da política fiscal do BC, passou a justificar uma redução imediata da taxa de juros, já a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 21 e 22 de março. “É, portanto, o argumento para acelerar o início do processo de corte de juros”, declarou o economista, referindo-se aos efeitos do caso Americanas.
A conclusão de Volpon e outros economistas aumenta a pressão sobre Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que tem sido reticente quanto a uma sinalização para juros básicos mais baixos no curto prazo. A contração no mercado de crédito, contudo, acelerou uma percepção entre analistas do mercado financeiro de que a redução da Selic venha antes do esperado.
Para evitar que o crédito escasso cause impacto negativo na economia, o Ministério da Fazenda vem tomando medidas e preparando o terreno para uma redução gradual dos juros e o restabelecimento de um ambiente de crescimento econômico.
Nesta semana, em evento da Federação Nacional dos Engenheiros, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, defendeu que é “importante reduzir a taxa de juros” para permitir investimentos no país.
“Quando eu tenho inflação de 5,7% e o juros quase 14%, 8% de juro real, o cara, para tomar dinheiro pensa duas vezes”, declarou o vice-presidente. “Hoje no Brasil, investimento, 70% é capital próprio, isso é uma anomalia”, disse, referindo-se ao crédito escasso.
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), protocolou na Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (16), projeto de lei para limitar a taxa de juros aplicada sobre os cartões de crédito. O projeto limita os juros ao máximo de 8% ao mês. O parlamentar tem protagonizado uma campanha nacional em favor de juros baixos no Brasil.
Lindbergh idealizou o projeto com base em resolução do próprio Banco Central que, no ano de 2019, regulamentou a cobrança de juros sobre o cheque especial, quando os juros estavam acima de 300% ao ano e caíram para cerca de 150%. “No entanto, os juros do cartão de crédito continuaram sem qualquer regulamentação e seguem em patamar abusivo de mais de 400% ao ano”, critica o parlamentar.
“O maior endividamento das famílias brasileiras é exatamente com o cartão de crédito, sob os maiores juros do mercado. No atual cenário de grande desemprego e aumento da fome, muitos estão endividados no cartão de crédito para comprar alimento para suas famílias”, justifica o deputado.
“Não é aceitável que as operadoras de cartão de crédito continuem cobrando essa taxa abusiva, sem qualquer tipo de regulamentação. A imposição de um valor máximo nos juros cobrado pelas instituições financeiras é prática em diversos países do mundo, através de leis de usura e, também, de leis específicas para cada modalidade de crédito”, completa.
Do site PT na Câmara